terça-feira, 6 de julho de 2010

às mArGens do bAndo

Sempre que classificam alguém de marginal, uma diminuta pulga se intromete em minhas sinapses... marginal  por causo de o quê? Marginal como, à margem de aonde?
Entendo que a expressão seja ser usada para se referir a pessoas que estão no limites da sociedade estabelecida. São aqueles que ficam vendo a banda passar, mas louquinhos para vestirem o uniforme, tocar algum instrumento e desfilar com o pé certo. Certo?
Nossa sociedade é calcada em modelo consumista, onde o dinheiro é protagonista charlatão. Novidade nenhuma, diriam.
Como a posse de bens de consumo, - inúteis ou poluidores, não importa - é modelo de comportamento dominante, quem não possui aparatos tecnológicos com design de grife, está automaticamente marginalizado.
Seu celular não é tipo I-Pod?  Seu DVD já navega nas ondas do blue-ray? Sua conexão tem menos de 10 gigas de velocidade? A enorme bolsa equivale à no mínimo 100 cestas básicas? E a caminhonete importada, daquelas que os urbanos compram pelo preço de um imóvel, para fingirem que são campeiros, ainda não está na sua garagem? Mas bah, então posso considerá-lo um marginal, não é não?
O dito marginal querendo participar do fabuloso mundo dos consumidores sorridentes, às vezes comete delitos como passar um voador aqui outro acolá, adquirir um veículo que não tem como pagar, e até subtrai para se sentir inserido no admirável mundo do novo. Indesculpável é claro.
Outros são rebeldes e cometem atos de vandalismo para descarregar sua incapacidade de ser aceito pelos incluídos. Merecem sempre advertências e punições.
Mas existe uma grande diferença entre marginal e bandido. Bandido é gente ruim e cruel, sem moral, que sente prazer em prejudicar, violentar, destruir. No livro Carandiru, o Dráuzio Varela fala dos elementos com sangue nos olhos...
E pasmem senhores, os grandes bandidos não são marginais. Estão dentro do sistema organizando suas falcatruas e roubalheiras, muitas vezes usando brechas da lei em cumplicidade com uma justiça lenta e burocrática, que queiram/gostem ou não continua favorecendo a quem tem recursos de duvidosa origem.
A impunidade é balizadora das ações dos bandidos de colarinho branco e as mãos sujas de sangue.
Esses bandidões e suas quadrilhas de diversas instâncias e poderes, roubam, sonegam, desviam milhões de reais. Quantas vidas são perdidas, no mau atendimento dos hospitais, na falta crônica de infra estrutura de saneamento, transporte, e segurança, na aquisição de merenda adulterada, da morosidade enervante das ações sociais, na...
São os abutres da bandidagem explícita e organizada sempre prejudicam nós outros, sem dó e nem piedade.
Por quanto tudo, meu caro pense nisso, antes de categorizar alguém como marginal.
Nem sempre é necessário estar com todos os indicadores de pertencimento atualizados, para se ser humano, feliz e longe de se preocupar com modas e paradigmas exógenos.

retextuado do original de agosto de 2004, no DP

2 comentários:

Tereza Kawall disse...

Assino embaixo, a burrice está na moda, e pensar cansa....
A mídia performática nos torna reféns de bobagens e inutilidades várias!
Depois dá mum pulo no blog do Luis pellegrini, tem coisa boa lá.

Valéria Barros Nunes disse...

eu vivo sem fronteiras. faz tempo q andocercada dos bandidos de hilux e land rovers. Não voto neles, mas não consigo fugir. Também tem os bandidos de rua, q volta e meia pulam meu muro e saqueiam minha casa. Agora, estou mais rebelde do que nunca. Não consumo drogas de geladeira, nem impressas em cd-dvd. Sou marginal pq não estou pagando crediário, nem crédito bancário! Tô no limite da pobreza e rindo de boba!